sábado, 26 de março de 2011

Eurico Lara - O Imortal Tricolor



Por Alexandre Perin:

" Eurico Lara existe no dualismo típico do povo gaúcho: entre a lenda e a história. O que é mito sobre esse goleiro, nascido em Uruguaiana, no distante ano de 1897, e falecido precocemente em Porto Alegre no ano de 1935, se misturam com fatos reais que rechearam o cotidiano do Rio Grande do Sul no início do sécuo passado. E acabaram por construir uma das mais dramáticas histórias do futebol brasileiro em seu início de existência.

Defendendo o Tricolor gaúcho por 16 temporadas, Lara se tornou o primeiro e único até os dias de hoje, jogador de futebol a ter seu nome citado em um hino de clube da primeira divisão.( Homenagem feita por Lupicínio Rodrigues, um dos grandes compositores da MPB).

Tímido, era reservado, mas dotado de talentos incomuns, sobretudo entre goleiros da época. Sua resilência era notável, talvez originado da vida militar que seguiu por toda a vida. Porém, o mais provável é que isto era fruto de um sentimento interno, superior, inquebrantável, nato dos grandes ídolos do povo.

Eurico Lara começou a carreira jogando no time do exército quando completou 18 anos. Rapidamente, sua fama se alastrou por Uruguaiana e cercanias, e um de seus jogos foi visto por um conselheiro gremista, que o indicou ao clube.

Ele não queria sair de Uruguaiana e fingiu doença para não ficar em Porto Alegre, mas o Grêmio "mexeu os pauzinhos", e conseguiu uma transferência militar. Se apresentou no Fortin da Baixada no ano de 1920, aos 23 anos, para se tornar o maior goleiro tricolor de todos os tempos. E já começou ganhando um título, o citadino de 1920.

Em 1922, defendendo a seleção gaúcha contra a seleção paulista, Lara pegou 20 chutes de Arthur Friedenreich e saiu ovacionado pela torcida paulista no Pacaembú. Recheado de convites, não aceitou ir jogar em São Paulo. O goleiro só atuou por um outro clube, o Porto Alegre, por um jogo, em 1928. Levou uma sova e voltou chorando para a baixada, naqueles tempos a sede do Grêmio, de onde nunca mais saiu.

Ele fazia defesas impressionantes, especialmente para os goleiros da época. Nos primórdios do futebol profissional, se tornou o primeiro dos ídolos populares do futebol gaúcho. Uma antológica defesa em Gre-nal, contada pelo então colega, Lacy ( que disse: "- o atacante colorado chutou, a bola entraria no ângulo, Lara se levantou, deu um tapa na bola de costas, a bola bateu no travessão e saiu), e quatro míticas defesas consecutivas contra o Botafogo, são exemplos desse talento. Rapidamente se tornou uma unanimidade entre admiradores, rivais e imprensa.

Entretanto, aos poucos começou a mostrar sintomas de uma crônica tuberculose, doença que matava naqueles tempos. Outro problema: tinha insuficiência cardíaca, agravada pela tuberculose.

Chegamos ao ano de 1935, repleto de comemorações no estado pelo centenário da Revolução Farroupilha. Debilitado, Lara foi vetado pelos médicos e ficaria fora dos jogos finais. Porém, em um supremo esforço, ele bate o pé e afirma: "- Vou jogar a decisão!"

Lara se referia ao "Grenal Farroupilha", disputado em 22 de setembro daquele ano. Na decisão contra o internacional, Lara atuou por apenas 40 minutos ( na época os jogos duravam 80). Fechou o gol e garantiu o 0 x 0.

No intervalo, deixou o time com fortes dores no peito. Com o empate, o inter era campeão, mas no segundo tempo, Oswaldo Rolla ( o célebre Foguinho), fez 1 a 0. Na saida de bola, Lacy amplia, o Grêmio vence por 2 x 0, e se torna o Campeão Farroupilha, no maior clássico de todos os tempos, até então. Este jogo se tornou tão emblemático, que o Grêmio adotou o compromisso de comemorar por 100 anos em um jantar sua vitória mais importante desde a formação, 32 anos atrás

Depois do jogo, Eurico Lara ainda participa da comemoração dos jogadores, mas depois vai para o Hospital Beneficiência Portuguesa, na capital gaúcha. Com a Tuberculose avançada, não sai mais de lá, e morre em 6 de novembro de 1935. Seu enterro causa comoção popular, reunindo a mutidão de 30 mil pessoas. Gremistas e colorados, em homenagem a uma pessoa comum, de hábitos simples, e caráter férreo. Porem que, naquele dia, deixava o terreno dos homens e subiu ao panteão dos mitos, das lendas, a imortalidade.


Lendas sobre Lara:
- Morreu defendendo um penalti no Grenal do centenário farroupilha.
- quebrou o braço em um jogo, mas continuou em campo....

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